ANDRÉ TEIXEIRA, TREINADOR CAMPEÃO NACIONAL EM FEMININOS
“Futsal terceirense está
no caminho correcto”
O orientador do curso de Nível I para treinadores de futsal promovido pela AFAH, André Teixeira, entende que a modalidade tem evoluído de forma considerável, mormente após o arranque dos escalões de formação
LUÍS ALMEIDA DI
O futsal terceirense está no bom caminho e reúne condições para continuar a evoluir de forma sustentada. A formação de quadros técnicos cada vez mais especializados e o arranque dos escalões de formação são dados positivos. A opinião é de André Teixeira, responsável pelo recente curso de Nível I organizado pela Associação de Futebol de Angra do Heroísmo.
Segundo o treinador principal dos Restauradores Avintenses, clube de Vila Nova de Gaia que se sagrou, na época transacta, campeão nacional de futsal feminino, a qualidade é real. “Na minha opinião – algo que, inclusive, transmiti aos treinadores presentes – este é o curso onde existe maior qualidade, até porque todos já possuem uma vivência e uma experiência que lhes permitem maior bagagem para enfrentar a formação”, refere.
Aliás, os treinadores locais demonstraram possuir conhecimentos importantes, o que pode proporcionar um futuro risonho. “Muitos dos conteúdos e dos conceitos que foram debatidos durante o curso já não eram completamente estranhos para os técnicos em formação. Penso que desenvolvemos um excelente trabalho e desta formação poderão sair grandes treinadores”, frisa André Teixeira, ao mesmo tempo que deixa a porta aberta para um curso de Nível II a realizar na Terceira no próximo ano.
Sobre o curso, a explicação é do próprio formador. “Existe um padrão de ensino dos conteúdos, a começar por uma abordagem teórica, que incidiu sobre a essência do jogo, desde os seus princípios, fases e formas de compreendê-lo. Na componente táctica, abordámos aspectos no âmbito dos três grandes momentos do jogo: ataque, defesa e transição. A partir daqui, há toda a construção de um processo próprio, pois existe a necessidade, quando se assume a direcção técnica de uma equipa, de definir claramente como atacar, como defender e que estratégias usar para quando se perder ou recuperar a posse do esférico. É por aqui que começa todo o trabalho”, explica.
FUTSAL E FUTEBOL
Esta é a terceira vez que o treinador de Nível 4, que integra a Bolsa Nacional da Associação de Treinadores, se desloca à Terceira para acções de formação. André Teixeira entende que o grau de capacidade subiu consideravelmente. “Encontrei a modalidade num patamar muito precoce aquando da minha primeira vinda à Terceira. Existia apenas um campeonato e a média de idades deveria rondar os 30 anos, pois o futsal recebia os atletas que penduravam as chuteiras no futebol. No segundo curso, já existia um desenvolvimento interessante, mas nada de transcendente, até porque não existia escalões de formação. Neste momento, penso que o futsal terceirense está a caminhar no sentido correcto”, frisa.
A formação é a palavra-chave. “Criaram-se os escalões jovens, existem campeonatos de ilha nos diversos escalões e o futsal feminino também começa a aparecer, como evidência a presença do Posto Santo na Taça Nacional. Aliás, os Açores já contam com equipas a disputar o nacional da 3.ª divisão. No fundo, penso que a evolução é uma realidade. Este curso vem ajudar a que os responsáveis técnicos possam ter acesso a outros conteúdos e conceitos, para que esta evolução seja progressiva. No entanto, o grande cerne da questão passa por trabalhar forte na formação, realizando um trabalho de base bastante alargado”, acrescenta.
No caso terceirense, o futsal cresceu à custa do “alimento” que foi encontrar no futebol, recebendo muitos dos jogadores que foram abandonando os relvados. Para André Teixeira, não é possível dissociar as duas modalidades, pois os objectivos e os princípios de jogo são semelhantes. O que muda, essencialmente, é o futsal ser disputado em pavilhão e num terreno de menores dimensões, o que imprime maior velocidade ao jogo. “Mas é necessário que se comece a separar as coisas de forma mais concreta, partindo para a especialização”, reforça.
FORMAR
Começar a criar escalões nas faixas etárias mais baixas é um dos rumos a seguir, pois o futebol tem muitas diferenças no que toca aos aspectos técnicos. “Os vícios que se adquirem no futebol acabam por não ser positivos, principalmente nas acções individuais, como o passe e a recepção. Numa fase inicial, foi importante esta ‘transferência’ de jogadores do futebol para o futsal, mas, cada vez mais, é fundamental que haja a sensibilidade para se compreender que o futsal é uma modalidade específica e que requer a especificidade da formação, que terá de ser iniciada com atletas cada vez mais novos, como as escolinhas”, atira André Teixeira.
Tecnicamente, a explicação é bastante simples, como exemplifica o nosso interlocutor: “no futebol, a recepção é feita, quase sempre, com a parte interna do pé. No futsal, devido às dimensões do campo e ao facto de a defesa estar sempre muito próxima do adversário, a recepção com a planta do pé é a mais utilizada. São estes vícios que, transportados para o futsal, criam dificuldades. É imperioso estar a atento a estas questões e começar a formar os atletas desde o escalão de escolinhas”.
A constante aprendizagem dos quadros técnicos é, ao mesmo tempo, imprescindível, pois, para se formar, é necessário ter formação. André Teixeira afirma que o futsal terceirense está a percorrer o caminho correcto e é uma modalidade cada vez mais divulgada, mas alerta: “é de crucial importância este tipo de acções de formação, pois torna-se determinante que os treinadores, cada vez mais, se especializem na modalidade de futsal, atendendo a que só assim a transmissão de conhecimentos e conceitos será feita de forma efectiva. A metodologia e os conceitos de organização do jogo e dos seus princípios gerais divergem do futebol”.
Aos 32 anos, o técnico que já dirigiu o Braga, subindo à 1.ª divisão, e o Alto de Avilhó, onde conquistou o nacional de futsal feminino, acredita que a saída da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) pode ser determinante para o futuro da modalidade. “É preciso compreender se as pessoas querem, de facto, que a modalidade continue a evoluir. Neste momento, o futsal português é um departamento na estrutura da FPF. Nós, treinadores e jogadores de futsal, queremos que a modalidade evolua. O que querem os dirigentes? Não sei. Na minha opinião, vai chegar uma altura em que o futsal terá de sair da FPF”, atira.
Por outro lado, entende que equipas como Benfica e Sporting acabam por relegar para segundo plano a importância de clubes como a Fundação Jorge Antunes ou o Freixieiro, que já foram campeões nacionais. “Existe um problema com os ‘nomes’. Em termos de patrocinadores, esta situação é evidente e nota-se, talvez até de forma mais vincada, nos femininos. Poucos saberão da existência dos Restauradores Avintenses, que é o campeão nacional e alberga nas suas fileiras jogadoras de alto nível e de selecção nacional. Não obstante, temos sentido algumas dificuldades, por exemplo, para participar na Taça Ibérica e na Taça das Nações, uma vez que o nome do clube acaba por ser um factor limitador”, salienta.
A outro nível, mesmo afirmando que a modalidade nunca irá chegar ao patamar do futebol, reforça a evolução que o futsal tem conhecido nos últimos anos, ao ponto de ser a número 1 no que toca a desportos de pavilhão. “Só a título de exemplo, refira-se que a Associação de Futebol do Porto tem mais atletas praticantes em futsal do que em futebol”, exemplifica.
“O futsal é um desporto que está a explodir, até por ser uma modalidade de pavilhão, logo, imune às condições climatéricas. É vista, cada vez mais, como desporto espectáculo, com uma dinâmica impressionante e, claro, golos. Quando entramos num estádio de futebol, poderemos assistir a golos ou não. No futsal, um jogo sem golos é quase impossível de acontecer. Fomos campeões nacionais e, até ao último segundo, poderíamos não o ter sido. Esta emoção é única”, conclui.
“Futsal terceirense está
no caminho correcto”
O orientador do curso de Nível I para treinadores de futsal promovido pela AFAH, André Teixeira, entende que a modalidade tem evoluído de forma considerável, mormente após o arranque dos escalões de formação
LUÍS ALMEIDA DI
O futsal terceirense está no bom caminho e reúne condições para continuar a evoluir de forma sustentada. A formação de quadros técnicos cada vez mais especializados e o arranque dos escalões de formação são dados positivos. A opinião é de André Teixeira, responsável pelo recente curso de Nível I organizado pela Associação de Futebol de Angra do Heroísmo.
Segundo o treinador principal dos Restauradores Avintenses, clube de Vila Nova de Gaia que se sagrou, na época transacta, campeão nacional de futsal feminino, a qualidade é real. “Na minha opinião – algo que, inclusive, transmiti aos treinadores presentes – este é o curso onde existe maior qualidade, até porque todos já possuem uma vivência e uma experiência que lhes permitem maior bagagem para enfrentar a formação”, refere.
Aliás, os treinadores locais demonstraram possuir conhecimentos importantes, o que pode proporcionar um futuro risonho. “Muitos dos conteúdos e dos conceitos que foram debatidos durante o curso já não eram completamente estranhos para os técnicos em formação. Penso que desenvolvemos um excelente trabalho e desta formação poderão sair grandes treinadores”, frisa André Teixeira, ao mesmo tempo que deixa a porta aberta para um curso de Nível II a realizar na Terceira no próximo ano.
Sobre o curso, a explicação é do próprio formador. “Existe um padrão de ensino dos conteúdos, a começar por uma abordagem teórica, que incidiu sobre a essência do jogo, desde os seus princípios, fases e formas de compreendê-lo. Na componente táctica, abordámos aspectos no âmbito dos três grandes momentos do jogo: ataque, defesa e transição. A partir daqui, há toda a construção de um processo próprio, pois existe a necessidade, quando se assume a direcção técnica de uma equipa, de definir claramente como atacar, como defender e que estratégias usar para quando se perder ou recuperar a posse do esférico. É por aqui que começa todo o trabalho”, explica.
FUTSAL E FUTEBOL
Esta é a terceira vez que o treinador de Nível 4, que integra a Bolsa Nacional da Associação de Treinadores, se desloca à Terceira para acções de formação. André Teixeira entende que o grau de capacidade subiu consideravelmente. “Encontrei a modalidade num patamar muito precoce aquando da minha primeira vinda à Terceira. Existia apenas um campeonato e a média de idades deveria rondar os 30 anos, pois o futsal recebia os atletas que penduravam as chuteiras no futebol. No segundo curso, já existia um desenvolvimento interessante, mas nada de transcendente, até porque não existia escalões de formação. Neste momento, penso que o futsal terceirense está a caminhar no sentido correcto”, frisa.
A formação é a palavra-chave. “Criaram-se os escalões jovens, existem campeonatos de ilha nos diversos escalões e o futsal feminino também começa a aparecer, como evidência a presença do Posto Santo na Taça Nacional. Aliás, os Açores já contam com equipas a disputar o nacional da 3.ª divisão. No fundo, penso que a evolução é uma realidade. Este curso vem ajudar a que os responsáveis técnicos possam ter acesso a outros conteúdos e conceitos, para que esta evolução seja progressiva. No entanto, o grande cerne da questão passa por trabalhar forte na formação, realizando um trabalho de base bastante alargado”, acrescenta.
No caso terceirense, o futsal cresceu à custa do “alimento” que foi encontrar no futebol, recebendo muitos dos jogadores que foram abandonando os relvados. Para André Teixeira, não é possível dissociar as duas modalidades, pois os objectivos e os princípios de jogo são semelhantes. O que muda, essencialmente, é o futsal ser disputado em pavilhão e num terreno de menores dimensões, o que imprime maior velocidade ao jogo. “Mas é necessário que se comece a separar as coisas de forma mais concreta, partindo para a especialização”, reforça.
FORMAR
Começar a criar escalões nas faixas etárias mais baixas é um dos rumos a seguir, pois o futebol tem muitas diferenças no que toca aos aspectos técnicos. “Os vícios que se adquirem no futebol acabam por não ser positivos, principalmente nas acções individuais, como o passe e a recepção. Numa fase inicial, foi importante esta ‘transferência’ de jogadores do futebol para o futsal, mas, cada vez mais, é fundamental que haja a sensibilidade para se compreender que o futsal é uma modalidade específica e que requer a especificidade da formação, que terá de ser iniciada com atletas cada vez mais novos, como as escolinhas”, atira André Teixeira.
Tecnicamente, a explicação é bastante simples, como exemplifica o nosso interlocutor: “no futebol, a recepção é feita, quase sempre, com a parte interna do pé. No futsal, devido às dimensões do campo e ao facto de a defesa estar sempre muito próxima do adversário, a recepção com a planta do pé é a mais utilizada. São estes vícios que, transportados para o futsal, criam dificuldades. É imperioso estar a atento a estas questões e começar a formar os atletas desde o escalão de escolinhas”.
A constante aprendizagem dos quadros técnicos é, ao mesmo tempo, imprescindível, pois, para se formar, é necessário ter formação. André Teixeira afirma que o futsal terceirense está a percorrer o caminho correcto e é uma modalidade cada vez mais divulgada, mas alerta: “é de crucial importância este tipo de acções de formação, pois torna-se determinante que os treinadores, cada vez mais, se especializem na modalidade de futsal, atendendo a que só assim a transmissão de conhecimentos e conceitos será feita de forma efectiva. A metodologia e os conceitos de organização do jogo e dos seus princípios gerais divergem do futebol”.
Aos 32 anos, o técnico que já dirigiu o Braga, subindo à 1.ª divisão, e o Alto de Avilhó, onde conquistou o nacional de futsal feminino, acredita que a saída da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) pode ser determinante para o futuro da modalidade. “É preciso compreender se as pessoas querem, de facto, que a modalidade continue a evoluir. Neste momento, o futsal português é um departamento na estrutura da FPF. Nós, treinadores e jogadores de futsal, queremos que a modalidade evolua. O que querem os dirigentes? Não sei. Na minha opinião, vai chegar uma altura em que o futsal terá de sair da FPF”, atira.
Por outro lado, entende que equipas como Benfica e Sporting acabam por relegar para segundo plano a importância de clubes como a Fundação Jorge Antunes ou o Freixieiro, que já foram campeões nacionais. “Existe um problema com os ‘nomes’. Em termos de patrocinadores, esta situação é evidente e nota-se, talvez até de forma mais vincada, nos femininos. Poucos saberão da existência dos Restauradores Avintenses, que é o campeão nacional e alberga nas suas fileiras jogadoras de alto nível e de selecção nacional. Não obstante, temos sentido algumas dificuldades, por exemplo, para participar na Taça Ibérica e na Taça das Nações, uma vez que o nome do clube acaba por ser um factor limitador”, salienta.
A outro nível, mesmo afirmando que a modalidade nunca irá chegar ao patamar do futebol, reforça a evolução que o futsal tem conhecido nos últimos anos, ao ponto de ser a número 1 no que toca a desportos de pavilhão. “Só a título de exemplo, refira-se que a Associação de Futebol do Porto tem mais atletas praticantes em futsal do que em futebol”, exemplifica.
“O futsal é um desporto que está a explodir, até por ser uma modalidade de pavilhão, logo, imune às condições climatéricas. É vista, cada vez mais, como desporto espectáculo, com uma dinâmica impressionante e, claro, golos. Quando entramos num estádio de futebol, poderemos assistir a golos ou não. No futsal, um jogo sem golos é quase impossível de acontecer. Fomos campeões nacionais e, até ao último segundo, poderíamos não o ter sido. Esta emoção é única”, conclui.
IN DIARIO INSULAR 27/07/2009
Sem comentários:
Enviar um comentário